terça-feira, 25 de maio de 2010

17 anos de casamento

sentou-se na cama
olhou o horizonte
da parede pálida
enxugou o rosto
algumas rugas de dor
res{pira}.
vejo suas costas
subindo
descendo

prende
o
ar...

solta
o
ar...

lenta.
tenta.
pensa
nesse amor que nunca foi
mas que sempre está
está
e estraga
e fica e fica e fica e fica
e faca
como poda!
como pode?
quase duas décadas
de vácuo entre sexos
num espaço desencaixado
duas carnes sem nenhuma unha
uma flor e uma cerveja
um tecido e um grito
uma árvore e um bar
essa falta de vontade um do outro
é o abandono a si próprio
falta de suor à dois
embaixo do mesmo ventilador
ventilando a dor que sente
vem tirando tudo
{menos a roupa}
ela não ousa
dar adeus
e à deus dá
sua vida
avalia e inválida se vê
sem via
nem ida
ela arruma a casa
ele chega à noite
se acomoda
com todo o corpo
e fica e fica e fica e fica
vivendo no sofá
em frente à TV tudo se esquece
e se repete
futebol e carne aos domingos
então, tudo certo
ele bebe, ela limpa
e se promete acabar com tudo
mas amanhece e esquece
chora,
mas permanece.


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6 comentários:

Marcelo Mayer disse...

desse jeito, em todo casório, parar de fumar seria a ultima opção. me sentiria melhor

muito bom, principalmente o jeito que descreveu o "pensamento"

Diogo Orlov disse...

Também estou res[pirando]!
Belo post como sempre,
até mais, beijos!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Linda Ju, linda, Ju.
Vc foi iluminada ao escrever este pensamento.
Mas ainda bem que existem vários tipos de 17 anos de casamento, posso te garantir.
Um beijo e nos presenteie sempre com seus pensamentos.

Unknown disse...

Uma solidão enorme existe nesses versos. O mundo está cheio de amores assim, tâo acomodados.

Shala Andirá disse...

Belíssimo! Tua escrita chora, sua e cora!