quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um fim de novembro

E desde então nenhum dia escapou da lembrança daquele fim de novembro. A sentença ferve fresca e ataca peçonhenta quando ela menos espera: dirigindo o carro, encostando ao travesseiro, em meio à uma gargalhada... Ela bebe do próprio veneno e chora por sua própria maldade. Sofre pela vontade rasa, sem verdade, pela falta de raciocínio e coração. Egoísmo sem ego. Não querias poesia, moça? Agora não sabes o que fazer com tantas! Deixaste a parte podre da tua alma transparecer e assim tu mesma tiraste teu poder de mistério. Teus segredos já são notícias, ai de ti que não agüente o tranco! Sim, a cara dada à tapa ainda arde, porém não mais que seu próprio castigo. Jogue esta mulher de um barranco, atire pedras, castiguem-na, façam qualquer coisa! Só não a deixem assim; não, não assim... Em seu útero de mulher já se vão meses de passado empoeirado. Desnuda e desnutrida, observou sua companhia feminina e, num embaralho qualquer, um breu se fez.
A culpa cresceu.
A culpa cresce com o tempo.



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domingo, 8 de agosto de 2010

Um desabafo niteroiense

O coração batia rápido que só vendo.
Eu, rubra e quadriculada, voltei à origem com fome de afeto
Comprei presente, me vesti, cruzei a ponte
Fui pelas ruas com uma intimidade perdida
A cidade tinha encolhido. Ou fui eu que cresci?
Tudo minúsculo, um incômodo esquisito
Que eu não queria sentir. Não queria.
Cruzei com nomes, imagens, rostos
Todos moradores da memória
Eu voltei ao berço da amizade com fome de sorriso
Mas dei de cara com gargalhada
Fui tocada por braços fracos,
Desenlaçada.
Quanta solidão de uma vez só no meio daquela gente...
Daquela gente tão gente, tão minha, tão desmoronada
Afetada e desafetuosa
Eu nunca quis largá-los, nunca
Nunca fora abandono
Mas jogo fora como uma criança que mastiga seu chiclete até o fim...

Cuspi.

Parei de chorar. Agora desapego de propósito.
Vomitei a parte fedorenta da alma
Desculpem-me os bons que ficam;
Dei um chute no passado.


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