quarta-feira, 16 de março de 2011

PARA MINHA MENINA, AGORA MULHER - texto de Lara Gay

PARA MINHA MENINA, AGORA MULHER

Quando a menina cresceu, ela nem percebeu.
Um dia a boneca acordou no fundo do armário, em outro lar.
Em cima dela, roupas e cartas de amor... de um amor, o tal amor que agora divide a cama da menina.
Não mais menina.
Luzes baixas ao som de novos timbres.
Tão distante de tudo que era. Nova.
Quando a menina morreu, ela nem percebeu.
Uma noite agarrou a boneca e voltou pros braços da mãe, no velho lar.
No colo dela, lágrimas e silêncio... em berros, o tal grito entalado que agora sufoca o peito da mulher.
Mais mulher do que nunca.
No escuro ao som do amor da mãe.
Tão perto de tudo que era. Mais nova.
A menina, sem perceber, morreu ao crescer em dor. De mulher.
Surgiu de dentro daquela boneca a fortaleza esquecida em qualquer canto.
Tão firme. Tão linda. Tão nova.
De repente, é precisar voltar ao que se era velho pra encontrar o que se quer de novo...
... mesmo que seja de novo... ou a primeira vez.

Rio, 16/03/2011

Presente de Lara Gay, minha amiga. Minha alma irmã.



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